11 outubro 2010

A HORA E A VEZ...


de Victor Perez

            Desde pequeno tenho uma tendência a mártir! Menininho de formação cristã, sabia que morrer por outros ou por uma causa era algo admirável. Por esse motivo, quando a coordenadora jurou suspender toda a classe se não aparecesse o culpado pelo desaparecimento do estojo da Laurinha, senti uma tentação enorme de dizer que tinha sido eu! Imagine, todos os alunos da 4ª série C iriam me adorar – tirando a Laurinha, que ia continuar sem estojo, óbvio.
            Mas para que este plano desse certo, as pessoas teriam que saber que eu não era realmente o culpado. Ninguém que paga pelo erro que cometeu é considerado um mártir! Então contei essa idéia para um amigo na esperança que ele espalhasse minha inocência pela sala e ele respondeu: “Você é idiota? Isso não vai dar nada, eles só falam pra ameaçar a gente!”.Suspeitei que ele estivesse envolvido no roubo do estojo!
            Estava num conflito, pois agora eu podia:
1) Me fazer de coitadinho e ajudar a sala inteira;
2) Vasculhar as coisas do meu amigo a procura do estojo, entregar ele a polícia e ganhar uma estrelinha no caderno;
3) Seguir seu conselho e deixar o barco correr pra ver se a coordenadora tinha peito de suspender todo mundo.
            O recreio foi longo, mas quando o sino tocou, eu estava decidido!
            Entrei na sala como Matraga faria pouco antes de sua morte: Epa! Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou a minha vez!...
              E a professora: “Que isso menino?! Além de chegar atrasado, entra fazendo bagunça? Senta aí e fica quieto!” e continuou, “Gente, eu vou apagar a luz... quero todo mundo de cabeça baixa e de olho fechado! Vou contar até dez e quero esse estojo na minha mesa. Ninguém vai ver, a Laura vai ter as coisas dela de volta e pronto, não se fala mais nisso!”. Meu plano estava arruinado!
            Muitos anos depois, lendo SAGARANA pela primeira vez, um trecho do livro me chamou muito a atenção. O padre, conversando com Matraga, diz o seguinte:
            Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.
            As esperanças estavam renovadas.
         

8 comentários:

  1. "vem, vamos embora que esperar não é saber... quem sabe faz a hora não espera acontecer..."

    Juntando com a música sua redação tiraria 10! =P

    Muito boa a idéia! Gostei muito!

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  2. hehehe Ai sim!! É só acertar a letra da música! PS: Será que eu vou fazer mais uma redação da FUVEST esse ano?

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  3. Gostei da idéia do blog (palavra em inglês)...adora as exceções...vou acompanhar!

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  4. pintarei todo o muro de vermelho,
    desenharei cuidadosamente - e soturnamente, claro - uma estrela bem no meio

    aí, desta vez, quando a coordenadora perguntar..

    quem sabe não seja a sua hora e vez? rs

    a propósito, ou melhor, aproveito o ensejo, para parabenizá-lo por mais uma - literalmente - primavera

    é muito bom você existir!

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  5. Eba Carol!! Espero que vc encontre assuntos interessantes por aqui!!
    Ei Nati!! Você precisa assinar com outro nome.. essas palavras estão muito delicadas para um garoto! hehehe

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  6. nati? quem é nati chuchu?

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  7. Meu Deus.....Este muleque tem tendencia de ser o filho do nascimento hein....que pena que deu errado a estratégia dele rsrs...

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  8. fui uma das únicas pessoas que adorou Sagarana na minha turma. Deu vontade de ler de novo agora.

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