01 novembro 2016

Avaliação TCC

Prezado aluno,

Sabemos que realizar um Trabalho de Conclusão de Curso exige extrema dedicação. São dias, semanas, meses de leitura, pesquisa, redação, revisão, discussão. Mais do que obter uma boa nota, o estudante se entrega a este árduo esforço com o objetivo de compreender mais uma fração do extenso universo.

Porém, raras vezes o trabalho do aluno é tão dispendioso quanto o de seu avaliador em uma banca como esta. A hercúlea tarefa de ler as penosas páginas apresentadas, muitas vezes, nos faz perder a esperança na humanidade. A cada tabela desalinhada, a cada gráfico ampliado para ocupar mais espaço, a cada citação violada temos o desejo sacrificial de partir para outro plano.

Coloque-se no lugar de alguém que estudou mais do que a grande maioria dos políticos e empresários; alguém que investiu anos de sua vida numa carreira voltada a pesquisa e a descoberta das fronteiras do conhecimento; alguém cujo currículo lattes tem mais linhas que as Sagradas Escrituras.

Enfim, tente se colocar no lugar de um professor universitário que apesar dos requisitos apresentados acima, ganha cinco mil por mês e acaba de se divorciar. Que vai pagar pensão para dois filhos, sendo que a esposa ganha três vezes mais que ele. Que a única coisa que vai levar deste relacionamento é o antigo poodle da falecida sogra que ninguém quis assumir.

Imagine este homem chegando em casa e abrindo o seu TCC. Na primeira linha, lê: "O mundo atual passa por grandes transformações." A reação natural é fechar o documento e os olhos. A ansiedade faz seu coração disparar, pois ele já sabe o que virá pela frente. Não se trata apenas de uma linha desperdiçada, são oitenta e sete folhas sulfites de puro estrume.

Folhear trabalhos como este é exercício de humildade. Mais que humildade, penitência. Ao terminar a introdução consideramos menos insalubre a nobre tarefa de limpar de fossas; na justificativa, acreitamos sermos a fossa onde o aluno despeja suas ideias. Mas é geralmente nos objetivos específicos que entendemos o lugar do professor, nem limpador, nem fossa, somos, na verdade, a própria merda.

Para não estender mais esta missiva, agradeço a contribuição que sua pesquisa trouxe para o meio acadêmico. Mais do que o tema em questão – 'A presença do homem moderno nas bactérias: uma análise microbiótica' – ficou evidente que precisamos reavaliar nossos métodos, sob pena de nos tornarmos oblíquos.

Professores e alunos devem estabelecer um pacto de não mais torturarem uns aos outros. A vida cá está para ser vivida. Já bastam as lutas diárias que temos contra os invisíveis inimigos que hospedamos – sejam eles vírus mortais ou traumas de infância.

Seja feliz meu caro estudante! Vá ganhar dinheiro e deixe que a formatação da ABNT regule aqueles que, como eu, um dia acabarão por meter uma bala na cabeça.

Parabéns

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