─
Tchau, mãe!
Há
muito tempo ele esperava por esse dia. Já tinha feito outras viagens menores,
mas nos últimos anos seu desejo de ir para a Índia tornou-se ideia fixa. Mal
sabia ele que os ventos também têm suas teimosias e quando decidem mudar o rumo
da história, o fazem mesmo. Colombo desenharia um novo continente nos mapas que
estudava com extrema dedicação e que, no fim das contas, tiveram pouca
serventia.
Vivia
de forma austera, gastando somente o dinheiro necessário para manter as
aparências de um cidadão comum. Todo o resto guardava para a viagem, embora
seja de conhecimento geral ser impossível desvendar as infinitudes do oceano apenas
juntando moedas. Fala-se do dinheiro porque é onde se concentra o interesse da
maioria, mas Colombo também teve trabalho. Traçou muitos planos, calculou diversas
rotas, estudou todas as estrelas conhecidas na época, passou noites em claro
observando o calmo movimento das marés, conversou com pesquisadores que a
história esqueceu, leu os clássicos gregos escondido da igreja e fez acordos
comerciais com gente da mais alta classe de Portugal e Espanha ─ como todo
menino pobre que um dia chegou ao topo.
Embora
os planos de Colombo estivessem escancarados nas capas dos jornais, cabe a toda
boa mãe fazer algumas perguntas ao filho quando ele se despede:
─ Vai
aonde, meu filho?
─ Como
assim, mãe? Estou indo para a Índia!
─ Não
volta tarde, em?
─ Mãe,
estou indo viajar. Lembra que eu te falei na semana passada?
─ Quem
vai com você?
─ Vai o
pessoal lá do trabalho.
─ Quem?
─ O
Domenico, o João, o Giacomo...
─ Não
gosto, desse Giacomo! Fica com umas brincadeiras bestas no mar...
─ Pelo
amor de Deus, mãe... Eu já tenho 40 anos!
─ Já
fez sua mala?
─ Já!
─ Deixa
eu ver o que você colocou aí.
─ Mãe,
agora não dá tempo. Eu já estou de saída.
─ Pegou
blusa?
─
Peguei!
─ Pegou
escova de dentes?
─
Peguei!
─ Pegou
toalha?
─
Toalha?
─ É! Pegou
a tolha?
─ Acho
que sim, mãe... qualquer coisa alguém me empresta. Preciso ir!
─
Espera aí que eu vou pegar um salgadinho pra você comer no caminho...
─ Não
precisa, mãe. O barco já está cheio de coisas, não cabe mais nada. Fica com
Deus, tchau!
─ Não
beija mais sua mãe, não?
Então
Colombo se aproxima com certa pressa para beija-la, mas fica constrangido quando
ela o abraça e diz em tom mais baixo que tome cuidado na viagem, que o ama e
que volte logo. Olhando nos olhos, reforça que não fique de brincadeira no mar
porque é perigoso.
─ Está
certo, mãe! Pode ficar despreocupada.
Pendura
a bolsa maior no pescoço, carrega ainda umas tantas tralhas na mão quando ouve
um último pedido:
─ Manda
uma mensagem assim que chegar lá, viu?
Só faltou ela alertar para o perigo de entrar um saruê no barco "Ele pode roer o casco e tudo vir a pique". Aí seria minha mãezinha amada Filo Marto frita, cuspida, escarrada.
ResponderExcluirSensacional!!! #sóquechorei ;)
ResponderExcluir