12 setembro 2014

Romance a moda antiga

     Em 1382, o Príncepe Olávo III caiu numa armadilha. Naquele tempo, o coração, bem como os bandidos, os trapaceiros, os aproveitadores, os corruptos, os sem-vergonhas, os mau caráteres, os safados, os criminosos, os picaretas e os vagabundos de plantão, já preparava armadilhas para homens nobres e de boa fama.

     Sim, em pleno auge de sua virilidade e reinado, o príncipe Olávo foi se apaixonar pela pessoa errada. Sua mãe, Rainha Sabrina de Andradina, alcoviteira da mais alta conta na corte, tinha tudo planejado desde o nascimento da jovem Condessa de Itauna, filha de um robusto português de 137 kg. A menina era prima de segundo grau do príncipe e tinha todas as dádivas divinas para assumir o lado direito do futuro rei: rosto bem formado, pescoço firme, ombros abertos, um busto por demais respeitável, ventre espaçoso, ancas larguíssimas e pernas fortes como duas castanheiras. Aos 14 anos de idade era a réplica do pai, não fosse pelo vestido e pelo bigode.

     A despeito das pretendencias maternas, o príncepe tinha planos de dormir sob o mesmo lençol da Princesa de Magrel, filha encalhada da realeza vizinha. Se conheceram em um baile realizado as margens do belíssimo lago Largo, próximo a paróquia de Santo Antônio dos Pinhais. Ela usava um vestido com listras verticais, repleto de tules, mangas bufantes e um laço exagerado na cintura. O tempo era seu maior inimigo e agora usava sempre esta parafernália estética para que algum nobre a notasse entre tantas beldades presentes nestes eventos. E funcionou!

     Embora o Príncepe Olávo III fosse cobiçado por todas as cocotinhas do baile, foi aquela criaturinha franzina de 22 anos que fez seu coração bater como se lhe tivesse acabado o remédio para hipertensão. Chamou-a para dançar. A princesa parecia mais um dos mosquitos atraídos pela luz do baile, tamanha insignificância física que representava na pista. Todos sabiam que por debaixo da carapaça de nuvém que o vestido lhe conferia, havia uma moça tão mirrada quanto um pernilongo sem asas.

     A infeliz estava acostumada aos olhares de censura, mas podia fazer o quê? O metabolismo não lhe ajudava em absolutamente nada: comia como uma leitoa todos os dias; dormia pelo menos 2 horas depois de cada refeição; evitava a todo custo subir escadas ou qualquer outra atividade que exigisse esforço físico; passava horas costurando, sentada na varanda e ainda assim, nunca passara dos 54kg. Pior que isso, além de suportar o desprezo por seu peso irrisório, a menina ainda era alta. Seu 1,72m de altura ampliava a aparência esguia e medíocre.

     Mas uma dança puxa a outra e o coração cuida do resto. Por inveja, fofoca, picuinha, disse-me-disse, a conversa chegou nos ouvidos da Rainha Sabrina. Fula da vida como toda boa mulher contrariada, armou um barraco daqueles que só gente fina sabe fazer. Foi uma confusão dos diabos, com direito a palavrão e dedo no olho, além da clássica revisão dos tratados, divisão de reinos e, de quebra, uma guerra sanguinolenta contra o pai da moça.

     Enquanto as bainhas rasgavam as honradas tripas militares, o casal fugiu para Milão. Como preço a pagar pela paixão proibida, passaram a viver como burgueses anônimos. A Princesa de Magrel usou seus conhecimentos de corte e costura para abrir um pequeno negócio no porão do sobradinho onde moravam, confeccionando roupas para as pobres coitadas que não achavam vestidos tamanhos P e M. Mas era ele quem, no fim das contas, sustentava a casa com a mesada que recebia do pai.

2 comentários:

  1. Guilherme Marto12 setembro, 2014

    Por um momento achei que ele estivesse apaixonado pela própria mãe. Depois continuei a ler o texto e fiquei mais aliviado. Ufa, o Victor ainda cultiva os bons costumes.

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