25 dezembro 2013

Natal de Shopping

     Dez pras três. A Mamãe Noel já marca o fim da fila. Agora não entra mais nenhuma criança. Trabalhar dia 24 é muito ruim, os pais têm pressa pra tudo: comprar, pagar, estacionar, voltar pra casa, cozinhar. Por outro lado, não podem deixar a criança sem falar com o Papai Noel, é a última chance este ano.
     Acostumado com essa rotina, o bom velhinho faz o cálculo (2 crianças/min x 10min = 20 crianças). Enquanto a mãe tenta convencer o menino de quatro anos a acompanhar o irmão de oito, ele bate os olhos rapidamente na fila e conta 13 crianças. Tem vontade de levantar da cadeira e dar uma boa espreguiçada. Coloca a mão no saco e saca 4 balinhas para o menino e seu irmãozinho teimoso. Próximo!
     As crianças estão pedindo muito os tais tablets. A partir dos seis anos de idade elas não falam mais em brinquedos, querem saber de tecnologia! Celulares, videogames, i-Pads, i-Pods, Galaxy. O Papai Noel anota tudo mentalmente. É bem provável que muitas crianças realizem seus sonhos esta noite. Pelas sacolas que os pais carregam, pode-se ver que as compras correspondem aos pedidos. Enquanto as crianças se distraem no colo do velhinho, alguns pais também distraídos, puxam a beirada da sacola para admirar o presente que será embrulhado com papel bem colorido. Os olhos brilham como quando abriam seus presentes na infância. Ao longo do ano, veremos quem usará mais o presente, pais ou filhos.
     Faltam mais 5 crianças. Em poucos minutos ele se levantará e sairá tocando o sino pelos corredores do shopping até chegar na porta de saída dos funcionários. Então poderá tirar a roupa de nylon vermelha e a terrível barba sintética que já não engana mais as crianças - se é que em alguma época foi capaz de enganar alguém. Aqueles minutos finais eram tão esperados quanto os segundos que antecedem a virada do ano. Quando começou a trabalhar de Papai Noel em shopping, há sete anos, tinha pique para continuar a noite de natal, visitando mais de dez casas do bairro para entregar presentes e encantar as crianças. Agora colocava a última criança no colo como quem bate o cartão da fábrica.
- Ho, ho, ho, qual o seu nome, rapazinho?
- Pinpix!
- Pinpix? Que nome mais curioso! Me diga, amiguinho, o que você quer ganhar do Papai Noel?
- O mesmo que todas as crianças, duas balinhas!
- Ho, ho, ho!!! Essa foi muito boa! Toma aqui as suas balinhas... Uma, duas!
- E o senhor, Papai Noel? O que quer ganhar de natal?
     Nunca uma criança havia perguntado isso antes. Que menininho estranho... O Papai Noel parou um segundo para analisar a criança. Tinha os traços de um jovem, mas era magrinho e não tinha mais que um e trinta. Trajava uma espécie de terninho verde de veludo e o cabelo bem loiro estava penteado de lado como o menino das balas Juquinha.
- Onde estão seus pais?
- Só posso responder a sua pergunta depois que responder a minha: Papai Noel, o que o senhor gostaria de ganhar de Natal? - olhou a volta e o shopping todo parecia vazio, as portas das lojas fechadas sem ninguém nos corredores.
- Quem é você?
- Pinpix! Todo Papai Noel me conhece. Não precisa fazer cerimônia! Responda a minha pergunta! O senhor vive dando presentes para todos, mas o que você gostaria de ganhar?
- Não sei responder... Você me pegou desprevenido...
- Pode pedir qualquer coisa! Nós, duendes, somos excelentes artesãos!
- Duende?!
O menino sorriu com os dentes serrados e os lábios bem abertos. Com a habilidade de um bom ventríloquo o duende sussurrou baixinho:
- Nós estamos sendo filmados e vamos para o youtube! É uma campanha de marketing... Apenas responda o que quer ganhar e pareça surpreso quando receber o presente!

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