Nas noites de lua cheia, pega o spray, a escada e a moto. Sua missão, encontrar um espaço entre tantos buracos urbanos, onde seja possível registrar sua arte-revolta. Já fez na Luz, na Sé, no Anhangabaú, na Vila Formosa, no Jardim Miracema, na Paulista, no Brás, no CEU Paz, na Rua Angelo Queiroz, nº 12, na quebrada do Pepê, na varanda da tia Dolores, no bar do Jóca, na Consolação, na igreja Universal do Campo Limpo, na favela do Sinistro, na São João, na Mooca, no ferro velho do Paraíba, na ponte Esébio Matoso, não necessáriamente nessa ordem.
Em cima da placa da padaria é perfeito. Para a moto, estica a escada, chacoalha o spray. Olha para um lado e para outro para saber dos riscos que corre, sobe e repete os movimentos. Precisamente atrás dele, do outro lado da rua, uma janela aberta revela um pouco mais do que a moradora do apartamento acredita estar revelando. Ele tenta ver um pouco mais, ela distraidamente anda pela sala escapando do seu campo de visão. Volta para a parede, ensaia os movimentos da primeira letra, aperta o gatilho, ouve um ruído. Olha pra trás rapidamente para não perder nada. Ela acende um cigarro e caminha em direção a janela. Na escuridão ele a vê plenamente, inteira, toda. Ela apenas se deixa ver sem saber. Volta a andar pela sala, ele acompanha, a escada não. Escorre a tinta vermelha na calçada.
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