Todo mundo tem a sua vida e carrega ela para onde
quer que vá. Nos ocupamos com diferentes tarefas, nos distraímos com diversas coisas, vemos novelas e nos identificamos com os personagens. É como se houvesse
espaço para cada um ser do seu jeito, todos podem ser enquadrados em alguma categoria: loucos, ladrões,
culpados, sonhadores, vítimas, técnicos de futebol, sempre há um perfil em que nos sentimos acolhidos. Com isso, surge a ligeira sensação de que entendemos as leis que
regem o universo, que podemos delimitar as ações e fazer da vida um sinônimo
para a rotina. Com medo do futuro, nos antecipamos sempre e, no anseio da
previsão, nos fazemos previsíveis.
Felizmente, não estamos sós e, vez ou outra, o terrário
chacoalha e ocorre algo espetacular, impressionante, impossível de crer. Daí,
não podemos mais levar a vida debaixo do braço, pois ela se torna infinita e
domina nossos corpos humildes. Não estou falando de epifania, nem insights, mas
vida! Veja o que aconteceu com nosso amigo naquela manhã. Ele não tinha uma consciência muito clara do que se passava, só a
evidência de que agora vivia. E essa descoberta da vida o fez enxergar
também a morte.
***
Com frio na espinha e pena no
coração, ele deu as costas para a velha. Os olhos esbugalhados de quem viu aquela cena
demoraram muitos minutos até arrumarem coragem para piscar. Pensou até em
voltar pra casa, mas preferiu não correr o risco de cruzar com ela
novamente.
O ponto de ônibus estava vazio. Cinco, dez minutos até chegar a
condução. Estendeu a mão. Bom dia! Do primeiro degrau, sentiu o
cheiro, e um rápido olhar para dentro foi o bastante para que ele
saltasse para fora aos berros! Saiu correndo
como pode e engatinhando quando não pode. Gritava na mais alta voz a única
coisa que é entendida em todas as línguas do mundo, um longo e sofrido ‘Ahh!’. Sem
um rumo certo para seu caminho, acabou parando por conta de uma trombada com um inocente
que andava pela rua.
– Que foi rapaz?!
– Meu Deus do céu! O ônibus
estava cheio de pessoas mortas!
– Como assim, mortas?
– É isso mesmo! Pessoas
doentes, dilaceradas, com enormes buracos no peito, sangrando...
– Você deve estar delirando..
deixa eu ver se está com febre!
– Febre nada! Eu juro que o ônibus
estava cheio de defuntos! Eu até senti o cheiro – o estomago não agüentou, vômito.
– Que horror! Você não está
nada bem rapaz! Fica calmo... como posso te ajudar?
Respirou fundo, respirou
outra vez ...
– Na verdade eu acordei me
sentindo muito estranho hoje, como se todos os meus sentidos estivessem mais
aguçados, não sei... pra falar a verdade você é a primeira pessoa com aparência
saudável que eu encontro hoje...
– Que horror! Levanta, deixa
eu te ajudar... – mas ele não levantou, preferiu desmaiar na calçada.
Que legal!!! Um romance de folhetim!!!! Virei fã! <><<
ResponderExcluirMuuuuuuito bom!
ResponderExcluirParabéns!!!!!!!!!