Cadê o menino?

     Há algumas semanas estamos vendo a transformação de uma cidade. São ruas, casas e lojas assumindo tons de vermelho e verde, se enfeitando com milhares de luzes, bolas e laços de todos os tamanhos. Lá em casa não foi diferente!

     Percebi que o ritual natalino estava começando quando meu pai passou com a escada reclamando por ter que subir no sótão - o lugar mais quente e empoeirado da casa. Coube a mim segurar a escada e pegar as inúmeras caixas cheias de tranqueiras. E como todo ano surgem novidades, sempre temos um número maior de caixas para subir no final no ano!
     Mas vale a pena, a casa ficou bem bonita e as mulheres se divertem com a bagunça. Criamos até uma sala dedicada somente ao tema. Acredito que nas casas vizinhas o processo deva ter sido muito parecido. Até o condomínio fez questão de enfeitar a portaria e uma das praças principais. E foi sobre esta decoração da praça que eu criei a maior expectativa!
     Montaram uma espécie de palquinho, coberto com lona, e esta imagem me fez lembrar os natais na casa dos meus avós. Quando chegava o mês de dezembro, o número de visitas a casa deles aumentava e eu tinha certeza que encontraria, na salinha de tv, O PRESÉPIO. Ele era super completo, cheios de bonequinhos com roupas estranhas e cercados de animais. E embora eles não se mexessem em mil posições nem fizessem tanto barulho quanto os meus brinquedos, eram simplesmente a melhor coisa que havia nas vesperas do natal!
     Cada vez que me sentava em frente ao presépio surgiam histórias diferentes: "A saga dos 3 velhinhos e seus camelos magros", "O anjo jazzista", "Revolução dos bichos" e muitas outras. Até que um dia, me contaram a verdadeira história, aquela em que o pequeno neném deitadinho no meio da palha é o protagonista.
     Nunca tinha imaginado que todo aquele cenário, os pastores, os reis, os anjos e até os animais, estavam lá por causa do menininho de braços abertos e sorriso simpático. Nunca tinha escutado que ele iria crescer e fazer coisas tão maravilhosas. Não sabia que eu voltaria a encontrá-lo de braços abertos, não mais na manjedoura, mas em uma cruz. Isso tornou aquele natal diferente dos outros. Conheci a história verdadeira de um Rei e entendi que tudo o que acontecia - pelo menos naquele presépio - era por causa de Jesus.
      Quanto ao pauquinho do meu condomínio, acabei bastante frustrado já que a estrutura do presépio era apenas uma tradicional casinha para o Papai Noel e sua esposa. Assim, não pude matar a saudades de todas aquelas pessoas vestidas com roupas estranhas e cercadas de bichos da fazenda. Não pude ver o anjo tocando sua trobeta, nem a estrela brilhando sobre a estrebaria. E por conta disso, menos pessoas perguntarão: O que todos eles estão fazendo em volta deste bebezinho? E por conta disso, a cidade voltará a ser o que era antes, cinza e sem tanto brilho, os sotãos ficarão ainda mais cheios de caixas empoeiradas aguardando o próximo natal. Mas gosto de pensar que ainda há uma história para ser contada, pois o menino sempre estará, em algum lugar, de braços abertos.